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Empreendedora se inspira em avó e cria app de delivery para gastronomia asiática

Rebecca Silva - Revistapegn
26/01/2023

Celebrar a tradição e promover a cultura e a culinária asiáticas são as motivações que levaram Marisol Kiyoko Nakabayashi Cruz Guevara, 33 anos, a iniciar a vida empreendedora. Ela é a criadora e fundadora do Vou de Nekô, aplicativo de delivery de comida e produtos asiáticos. “O Nekô tem o papel de fomentar, estimular e criar demanda para que os negócios de gastronomia afetiva prosperem”, explica. Atualmente, a foodtech está em busca de investimento para expandir o negócio. A...

Celebrar a tradição e promover a cultura e a culinária asiáticas são as motivações que levaram Marisol Kiyoko Nakabayashi Cruz Guevara, 33 anos, a iniciar a vida empreendedora. Ela é a criadora e fundadora do Vou de Nekô, aplicativo de delivery de comida e produtos asiáticos. “O Nekô tem o papel de fomentar, estimular e criar demanda para que os negócios de gastronomia afetiva prosperem”, explica. Atualmente, a foodtech está em busca de investimento para expandir o negócio.

A empreendedora nasceu da mistura do Japão com a Colômbia. Do lado materno, faz parte da quarta geração de japoneses que imigraram para o Brasil há mais de 100 anos para tentar a vida em um novo país. Foi o contato próximo com a avó que serviu de inspiração para o negócio. Orgulhosa, conta que a batchan (avó em japonês) tirou carteira de motorista aos 50 anos e mudou-se para o Japão aos 60, onde começou a trabalhar com gastronomia. Ao retornar para o Brasil, alguns anos depois, seguiu o conselho da filha nutricionista e empreendeu fazendo comida caseira por encomenda. “O primeiro dinheiro que ganhei na vida, ainda criança, foi entregando sushi em um casamento, como ajudante dela”, relembra.

Nascida no interior de São Paulo, Guevara foi viver na capital para terminar a escola. Foi quando passou a morar com a avó e precisava dormir no sofá dela. Enquanto cursava Relações Públicas, conseguiu um estágio no Buscapé, na área de marketing. Ela levava os quitutes preparados pela batchan para o trabalho e começou a receber encomendas, com o aval da chefia.

Para sair do sofá e conquistar um espaço próprio, aceitou um emprego no Grupo Pão de Açúcar, onde passou por diferentes áreas, do administrativo aos projetos com marcas exclusivas. Depois de alguns anos, decidiu se jogar no mundo e tirar um sabático. Guevara passou dois anos fora do Brasil, conhecendo 40 países e conhecendo a cultura local. Com a pandemia, voltou para casa da mãe, no interior de São Paulo, e tentou trabalhar com importação de produtos artesanais do Nepal, mas a subida do dólar impossibilitou o negócio.

De olho no que era tendência fora do país, decidiu reformar a cozinha da mãe para abrir uma fábrica de produtos plant-based, mas, quando chegou à parte de comprar os equipamentos, desistiu. “Não era o que eu queria, então achei melhor voltar ao mercado de trabalho, ser adulta, pagar as minhas contas. Fiz uma publicação no Instagram avisando que estava de volta e o meu ex-chefe do GPA me convidou para trabalhar no James Delivery”, conta.

Foi no James que a empreendedora teve contato de perto com o setor de entregas e conheceu as histórias e as dores dos fornecedores. Ela tentou implementar ideias que não foram aceitas e quis tentar o empreendedorismo novamente. “Ou eu mudava de emprego ou mudava o mercado. Tinha de ter um jeito para todo mundo ganhar: aplicativo, restaurante e entregador. Decidi tentar pela minha avó”, afirma.

Guevara queria deixar uma marca e viu a oportunidade como um papel em branco para imprimir a sua assinatura. Ela resgatou o que tinha no FGTS e investiu em tecnologia para criar um aplicativo específico para culinária asiática. “O mercado de tecnologia é difícil, a competição é grande, com players como iFood e Rappi. Mas vamos com coragem”, declara.

Com a ajuda de criadores de conteúdo, como o Achados da Liberdade e o Além do Sushi, conseguiu as primeiras indicações de restaurantes para incluir na plataforma. Ela foi a cada estabelecimento para vender a ideia do aplicativo e provar os produtos. “Eu mostrava uma apresentação. Não tinha o app, nem a página para se cadastrar ainda. A comunidade me ajudou muito, apostou no projeto, indicou mais restaurantes, deu feedbacks. É feito pela comunidade para a comunidade”, recorda.

A ideia do aplicativo é apresentar um mundo além do sushi e da comida japonesa, trazendo também opções de restaurantes indianos, taiwaneses, tailandeses, vietnamitas, chineses e coreanos. Ao acessar o Vou de Nekô também é possível conhecer um pouco da história do estabelecimento e de seus fundadores. “Antigamente, eu visitava restaurantes por causa dos donos, conhecia cada um deles. Isso caiu na pandemia. Muitos costumes já se perderam, como vestuário e idioma, mas a alimentação mantém viva a identidade, a essência”, pontua.

Vem de também da tradição o nome do negócio. Precisando de um nome urgente após a saída da ex-sócia, ela usou o Maneki Neko que tinha em casa como inspiração. Maneki Neko é o gato da sorte japonês muito visto em estabelecimentos por chamar dinheiro e fomentar o comércio. “Eu já estava falando com os restaurantes, precisava abrir a empresa. Vi o gato e pensei ‘Você fez isso a vida inteira, me ajuda’. Apelei para a ancestralidade”, conta.

Atualmente, o app cobra uma taxa de 17% por pedido – outros marketplaces cobram em torno de 27%. Quando eles são realizados, o split acontece automaticamente entre o restaurante e o Nekô. As entregas são feitas em parceria com empresas de logística. Guevara conta que iniciou o desenvolvimento de uma versão do aplicativo para entregadores, mas como a equipe é enxuta – são sete, contando com ela –, precisou focar nos fornecedores inicialmente.

Em pouco mais de um ano de operação – o Vou de Nekô foi lançado em setembro de 2021 –, o negócio atingiu o break-even e já recebeu em torno de 10 mil pedidos, com tíquete médio de R$ 105. A plataforma tem quase 14 mil downloads e conta com 60 estabelecimentos parceiros, todos na capital paulista, cadastrados. “Meu sonho é digitalizar toda a Liberdade [bairro tradicionalmente asiático em São Paulo] e outros pontos da cidade, como Pinheiros, Jardins e bairros da Zona Leste”, almeja.

Em 2023, a empreendedora pretende levantar a primeira rodada de captação de investimento com anjos, para não comprometer muito o captable da empresa. As primeiras tentativas não foram positivas, então ela focou nos clientes e em oferecer um atendimento de qualidade. O capital será utilizado para trazer mais profissionais para o time de tecnologia e ampliar as experiências oferecidas pelo app, tornando-se uma socialtech. Ela também pretende investir em marketing para atrair mais clientes e parceiros.

Para o futuro, planeja expandir para fora de São Paulo e sonha em levar o app para Lima, no Peru, outra cidade com grande concentração de asiáticos na América Latina. “Quero que o Nekô seja mais conhecido do que a Hello Kitty. Já procurei para fazer uma parceira, mas é caro, fica mais para frente”, finaliza, rindo.